sábado, 4 de dezembro de 2010

A IPB e o Espírito Santo - Carta Pastoral

A doutrina a respeito da pessoa e obra do Espírito Santo no meio da Igreja Presbiteriana do Brasil, infelizmente, ainda tem sido alvo de discussões e debates "acalorados", seja caminhando rumo aos "avivalistas" ou aos "conservadores"; isto tem gerado na igreja uma certa confusão, especialmente porque pouco é dito sobre a posição oficial de nossa denominação.
Existem vários posicionamentos sobre a Pneumatologia ( Doutrina do Espírito Santo) sempre caminhando na sua  sólida fundamentação bíblica; por isto, colocamos abaixo a "CARTA PASTORAL SOBRE O ESPÍRITO SANTO" na íntegra, bem como a decisão que a respaldou, quais seguem:


"SC-1998- Doc. 119 - Quanto ao Doc. N.º 175 – Proposta do Presbitério Serrano Espirito Santense referente à doutrina do Batismo com Espírito Santo e sua evidência. O SC/IPB-98, em sua XXXIV Reunião Ordinária Considerando: A doutrina do Batismo com Espírito Santo e sua evidência, Resolve: 1) Adotar como padrão doutrinário do S.C./IPB acerca da doutrina do Batismo com Espírito Santo e sua evidência a carta pastoral denominada o “Espírito Santo hoje: dons de língua e profecia”. 2) Determinar aos seus concílios, pastores, oficiais e membros da IPB, o abaixo transcrito: a) “A doutrina do batismo com o Espírito Santo, como uma “ Segunda benção” distinta da conversão, não deve ser ensinada e nem propagada pelos Pastores ou Membros nas comunidades, por ser biblicamente equivocada. b) Todo ensino sobre as línguas e profecias que entende estes fenômenos como um sinal do batismo com o Espírito é contrário à Escritura, visto que a sua evidência é a regeneração-conversão."

A CARTA PASTORAL SOBRE O ESPÍRITO SANTO 
(A numeração entre colchetes [ ] indica as notas de rodapé que no caso, estará ao final do texto, o índice não consta a numeração de páginas pois não se aplicaria ao caso)

Igreja Presbiteriana do Brasil
Comissão Permanente de Doutrina






O Espírito Santo Hoje

Dons de Línguas e Profecia




Carta Pastoral
endereçada aos Concílios
e Ministros da Igreja Presbiteriana do Brasil







São Paulo, Setembro de 1995

2a. edição: Junho de 1996



APRESENTAÇÃO



            O Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil criou a Comissão Permanente de Doutrina com o propósito de apresentar respostas às indagações mais urgentes dos seus pastores e membros em várias áreas da fé e da prática, respostas estas que provenham de uma exegese biblicamente correta e de uma hermenêutica que reflita a teologia dos nossos símbolos de fé e de nossa tradição reformada.
            Uma destas questões diz respeito à obra do Espírito Santo nos dias atuais. A Igreja tem plena consciência da importância generalizada com que este assunto tem sido recebido em seu meio, bem como da influência visível, entre igrejas locais, de ensinos tais como o batismo com o Espírito Santo como uma experiência distinta e posterior à conversão, o falar em línguas como evidência inicial deste batismo, e a ênfase a certos dons (línguas, profecia e curas) nos cultos. Apesar da atenção dada a uma vida espiritual mais profunda, estes ensinos têm trazido confusão e divisão em muitas comunidades presbiterianas, particularmente no que se refere ao batismo com o Espírito Santo e aos dons de línguas e profecia.
            Assim, a Igreja encaminha aos seus concílios e às suas comunidades locais a seguinte carta pastoral, com o propósito de orientá-las biblicamente nas questões relacionadas acima, e de encorajá-las a uma pesquisa bíblica mais detalhada da matéria.
            Esta primeira carta pastoral aborda questões relacionadas com o batismo com o Espírito Santo, o dom de línguas, e o dom de profecia. Ela não pretende esgotar o assunto. É apenas uma primeira palavra, num diálogo franco e amadurecido. Ela deverá ser seguida de outros estudos da Comissão tratando de outros temas relacionados com a obra do Espírito Santo. É o desejo sincero e a oração fervorosa da Igreja que a presente carta seja usada pelo Espírito Santo para promover a paz e a unidade tão necessárias às igrejas presbiterianas neste momento crucial de sua existência.                                                     






Comissão Permanente de Doutrina

Rev. Héber Carlos de Campos, Th.D.
Rev. Antônio Carlos Barro, Ph.D.
Rev. Antônio José Nascimento, D.Miss.
Rev. Augustus Nicodemus Lopes, Ph.D.
Rev. Caio Fábio d’Araújo Filho
Rev. Elias Dantas Filho, D.Miss.
Pb. Francisco Solano Portela Neto, Th.M.
Rev. Paulo José Benício, Th.M.
Mesa da Comissão Executiva do SC-IPB

Rev. Guilhermino Silva Cunha, Th.M.
Rev. Roberto Brasileiro Silva
Rev. Wilson de Souza Lopes
Pb. Adivaldo Ferreira Vargas

Consultor da Comissão de Doutrina
Rev. Odair Olivetti








Índice

APRESENTAÇÃO...........................................................
ACERCA DO BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO..
ACERCA DA PLENITUDE DO ESPÍRITO....................
ACERCA DOS DONS DO ESPÍRITO SANTO.............
O Dom de Línguas............................................................
Sobre as Línguas e o Batismo com o Espírito Santo...........
Sobre a Natureza das Línguas...........................................
Sobre o Propósito das Línguas..........................................
Sobre a Contemporaneidade das Línguas..........................
O Dom de Profecia...........................................................
Sobre a Natureza da Profecia............................................
Sobre a Contemporaneidade da Profecia...........................
ACERCA DA INTERPRETAÇÃO DAS ESCRITURAS SAGRADAS..
Interpretações Particulares ou Individuais...........................
A iluminação do Entendimento pelo Espírito Santo.............
RECOMENDAÇÕES AOS CONCÍLIOS E IGREJAS...





ACERCA DO BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO


            O batismo com o Espírito Santo foi prometido por Deus através de Joel e de outros profetas no Velho Testamento,[1] bem como através de João Batista e pelo Senhor Jesus Cristo no Novo Testamento.[2] Essa promessa cumpriu-se no dia de Pentecoste, quando o Espírito Santo, já presente e atuante na Igreja do Antigo Testamento, veio operar na Igreja Cristã nascente com poder e glória superiores à Sua operação sob o Antigo Pacto, para capacitá-la a testemunhar do Cristo exaltado.[3]Deste batismo participam todos os crentes de todas as épocas ao serem incluídos na Igreja, o Corpo de Cristo, quando da sua regeneração-conversão.[4]
            O batismo com o Espírito Santo no dia de Pentecoste marcou o início da fase neotestamentária da Igreja de Deus, confirmou a exaltação de Cristo à direita de Deus Pai, e inaugurou "os últimos dias".[5] O poder prometido pelo Senhor Jesus aos seus discípulos, e que viria a eles por ocasião do Pentecoste, está relacionado com a evangelização apostólica até aos confins da terra, e consiste essencialmente na capacitação de cada crente para testemunhar de Cristo e para viver uma vida em que se veja o fruto do Espírito.[6]
            A Escritura ensina que a experiência normal do batismo com o Espírito Santo coincide com a regeneração-conversão, e que são selados por este mesmo Espírito todos os que crêem genuinamente em Cristo Jesus.[7] Portanto, o batismo com o Espírito Santo, indispensável para a genuína regeneração-conversão, não se confunde com a chamada "segunda bênção," referente ao derramamento do Espírito no livro dos Atos dos Apóstolos. Antes, é a graça vitalizadora e capacitadora disponível a todos os crentes, e não apenas a alguns. Acresce que a indizível bênção da regeneração-conversão de modo algum é inferior à chamada “segunda bênção.” Portanto, a recepção inicial de Cristo, pela fé, está associada ao batismo com o Espírito Santo. [8]
            A Escritura também ensina que o batismo com o Espírito Santo, como narrado no livro de Atos, foi dado soberanamente por Deus em circunstâncias especiais, ocorrendo algumas vezes de forma súbita, como no Pentecoste. Quando o Espírito veio sobre os apóstolos e os demais reunidos no cenáculo,  tomou-os de surpresa, vindo "de repente" (At 2.2a). Eles esperavam o cumprimento da promessa, mas não sabiam quando e nem como ela se daria. Em outras ocasiões, o batismo com o Espírito ocorreu de forma inesperada, como na casa de Cornélio,[9] e ainda em outras através da imposição de mãos dos apóstolos.[10] A Escritura dirige-se a todos os que já são crentes como tendo já sido batizados com o Espírito. Em nenhum lugar ela encoraja os que já são crentes a buscar esse batismo, quer por preceito, quer por exemplo. Na expressão "batizar com o Espírito Santo," o verbo ocorre no tempo futuro ("batizará") apenas antes de Pentecoste, e aponta para aquele evento como o futuro cumprimento da promessa do Antigo Testamento.[11] Após o Pentecoste, nas cartas escritas pelos apóstolos às comunidades, os crentes são reconhecidos como já tendo sido batizados com o Espírito. Paulo escreveu aos Coríntios: "em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo” (1 Co 12.13).[12]
            A Igreja alegra-se com o desejo de muitos dos seus pastores e membros de ter uma vida espiritual mais profunda e plena, e encoraja-os a buscar continuamente o ser cheios do Espírito, como Paulo ensina.[13]

ACERCA DA PLENITUDE DO ESPÍRITO


            A vida no Espírito começa com a regeneração, quando o crente é batizado com o Espírito e incluídvo no corpo de Cristo.[14] A primeira manifestação desta vida é a invocação pelo crente do nome do Senhor para a salvação, o que em si já evidencia uma ação prévia do Espírito em seu coração.[15]
            Ser cheio do Espírito denota o domínio de Cristo em nossas vidas e ocorre quando o crente é conduzido voluntariamente pela Palavra, através da qual o Espírito atua.[16] Pela sua sujeição à palavra da Escritura, os crentes crescem na graça e nos benefícios que eles recebem gratuitamente através de Cristo.[17] A evidência desse crescimento é o fruto do Espírito, a prova de que eles estão em Cristo, e de que a Sua palavra está neles.[18] Sendo cheios do Espírito, os crentes são capacitados a falar a verdade de Cristo com grande ousadia e confiança,[19] manifestando em todas as áreas da vida um caráter santo, em harmonia com o de Cristo.[20]
            A Escritura ordena que cada crente seja cheio do Espírito Santo, e cresça espiritualmente pela obediência à Palavra de Deus escrita, e pelo uso correto dos meios de graça.[21] Quando ignoramos ou negligenciamos a Palavra de Deus, ou somos desobedientes a ela, nos tornamos culpados de entristecer e apagar o Espírito Santo.[22]
            Ao orarmos a Deus suplicando a plenitude do Espírito, a qual nos foi prometida, devemos empregar uma terminologia que esteja em plena harmonia com a afirmação da Escritura de que cada crente genuíno já tem o Espírito Santo desde a sua conversão. A terminologia usada pelo Senhor Jesus Cristo, antes do Pentecoste, para assegurar que o Espírito Santo seria dado aos que O pedissem,[23] é usada após o Pentecoste, no livro de Atos e nas cartas, para indicar que o Espírito Santo já foi dado a todos os crentes. Nessas passagens, o verbo di/dwmi (“dar”) ocorre, quer no aoristo indicativo, assinalando uma ação já ocorrida no passado, quer no particípio do aoristo, indicando uma ação anterior ou coincidente com a ação expressa pelo verbo principal.[24] Em ambos os casos, a doação do Espírito Santo, da perspectiva do crente, é contemplada como tendo sido já realizada. Existem umas poucas exceções, mas nenhuma invalida esta conclusão.[25] Podemos concluir que a linguagem “dar” e “receber” o Espírito Santo está associada à conversão, e não à plenitude que deve ser procurada no processo de santificação. A súplica pelo “recebimento” do Espírito Santo deve ser evitada pelos crentes ao orarem por uma vida espiritual mais profunda, pois à luz das Escrituras todo crente regenerado já foi batizado com o Espírito Santo.

ACERCA DOS DONS DO ESPÍRITO SANTO


            A Igreja alegra-se com a ênfase bíblica de muitas das suas comunidades na participação dos membros nos cultos e no serviço da igreja, através dos seus dons espirituais. A Igreja, entretanto, instrui os pastores e os membros das igrejas locais para que sejam os dons espirituais exercidos de acordo com os princípios reguladores explícitos ou implícitos nas Escrituras, para que se evitem os erros da igreja de Corinto, decorrentes da ignorância acerca da natureza e propósito dos dons espirituais,[26] que consistiam na busca de dons que claramente desempenhavam papel secundário no culto público,[27] na fascinação pelos dons chamados “espetaculares,” tais como o falar em línguas, no desprezo aos membros da comunidade que não tinham estes dons, na falta de decência e ordem no culto público,[28] e na avaliação do que julgavam ser “espiritual” baseada na presença desses dons, e não no amor cristão.
            O Novo Testamento traz as seguintes listas de dons espirituais: Rm 12.3-8; 1 Co 12.8-10; 1 Co 12.28; Ef 4.11; 1 Pe 4.10-11.[29] As diferenças na terminologia introdutória das listas, os diferentes dons alistados, bem como seu número, não justificam uma classificação rígida dos dons em categorias distintas, como “espetaculares,” “espirituais,” “de Cristo,” “os nove dons do Espírito,” “os cinco ministérios do Espírito,” etc. Tais diferenças se explicam à luz das situações distintas e dos propósitos diversos com que os autores as escreveram. As diferenças também sugerem que as listas não tinham caráter exaustivo, pois outros dons são referidos em outras passagens da Escritura.
            Dons espirituais são concedidos a cada crente pelo Espírito Santo, o qual os distribui a cada um “conforme lhe apraz.”[30] Isto não impede que os crentes desejem ardentemente os melhores dons espirituais,[31] desde que os mesmos sejam utilizados para a edificação da comunidade, e não para proveito próprio.[32] Os “melhores dons” que Paulo encoraja os Coríntios a buscar (1 Co 12.31) são os primeiros da lista de 12.28, que é claramente uma lista por ordem de utilidade (notar “primeiro,” “segundo,” “terceiro,” etc.). Em 1 Co 14.1,40 Paulo encoraja o dom de profecia (entendida como exortação baseada nas Escrituras).[33] O dom de línguas, embora não proibido, é claramente desencorajado pelo apóstolo, em vista das suas limitações e problemas potenciais, e mau uso por parte dos Coríntios.
            Os crentes devem usar seus dons para servir a Cristo na obra do Seu Reino, e para a edificação do Seu Corpo.[34] Todo os crentes genuínos recebem algum ou alguns dos dons espirituais.[35] Estes dons devem ser exercidos em amor, visando à edificação da Igreja. Nenhum dom espiritual deve ser desprezado, nem utilizado para trazer glória a qualquer outro que não Cristo Jesus.
            A soberania e a contemporaneidade do Doador dos dons, o Espírito Santo,[36] acarretam necessariamente a possibilidade de que os dons mencionados no Antigo e no Novo Testamentos sejam concedidos conforme e quando ditados pela sabedoria do mesmo Espírito. Essa afirmação está em plena harmonia com outro princípio igualmente bíblico, de que Deus revelou-se progressivamente através das Escrituras. Em algumas ocasiões, como na saída de Israel do Egito, no ministério dos antigos profetas de Israel, na encarnação e no ministério de Cristo e no período apostólico, a revelação divina foi acompanhada por sinais, prodígios e efusões de dons espirituais extraordinários, como milagres, ressurreição de mortos, profecias e línguas. Percebe-se facilmente pelas Escrituras que os milagres e demais manifestações extraordinárias agruparam-se em torno desses eventos. Nos demais períodos, em que pese a importância dos mesmos, como por exemplo o patriarcal, a monarquia, o ministério dos grandes profetas e o ministério de João Batista, tais manifestações estiveram, em parte, ou totalmente, ausentes.
            A contemporaneidade do Espírito, portanto, não exclui o propósito do Deus Triúno em seguir um plano progressivo de revelação, dispensando ou retendo durante a História as manifestações espirituais de acordo com Sua sabedoria. Por exemplo, não há registro inequívoco na História da Igreja de homens com o poder de ressuscitar mortos, desde o período pós-apostólico até hoje. Mesmo no período bíblico, a ressurreição de mortos ocorreu somente em algumas épocas e através de poucas pessoas, como Eliseu, o Senhor Jesus e alguns dos apóstolos. Deus é o mesmo, Cristo é o mesmo, e o Espírito é o mesmo — porém, o Deus triúno é soberano para agir de formas distintas em diferentes épocas. Portanto, afirmar a contemporaneidade de todos os dons e manifestações descritos na Bíblia, com base na imutabilidade de Deus, é inconseqüente.
            Assim, algumas manifestações espirituais mencionadas na Bíblia claramente deixaram de ocorrer, como o poder físico extraordinário concedido a Sansão, o poder de ressuscitar mortos, e o ofício de apóstolo concedido aos Doze e a Paulo.[37] Alguns dons são difíceis de serem identificados claramente, como “palavra de sabedoria”, “palavra de conhecimento,”[38] e “operação de milagres.”[39] Outros são claramente percebidos hoje, como “ensino” e “contribuição.” Algumas manifestações modernas, tais como “línguas,” “operação de milagres,” e “curas,” têm recebido importância indevida em dias recentes, sem serem apropriadamente analisadas à luz das Escrituras.

O Dom de Línguas

As Línguas e o Batismo com o Espírito Santo


            Aprouve a Deus que o batismo com o Espírito Santo, ocorrido no dia de Pentecoste, como um evento histórico-escatológico crucial, fosse marcado por manifestações especiais, como o som de vento impetuoso, línguas de fogo e o falar em línguas estrangeiras. As duas primeiras destas manifestações foram restritas àquele evento, e a última ocorreu ocasionalmente na era apostólica. Todas elas estavam ligadas ao processo de universalização do Evangelho, segundo At 1.8, e pertenceram, assim, como sinal do cumprimento da promessa do Espírito, àquele período específico da história da redenção.[40] É importante notar que ao relatar à Igreja de Jerusalém a descida do Espírito sobre Cornélio e os de sua casa, o apóstolo Pedro só pôde referir-se a uma experiência semelhante, ocorrida alguns anos antes, ou seja, à de Pentecoste, e não a experiências mais recentes.[41] Isto sugere que entre o Pentecoste e a conversão de Cornélio, que ocorreu vários anos depois, nenhuma outra experiência semelhante à do Pentecoste havia ocorrido que pudesse servir de referencial mais recente.
            Alguns têm entendido e afirmado que as línguas são a evidência inicial mais importante do batismo com o Espírito Santo. Essa afirmação baseia-se principalmente nas narrativas do livro de Atos em que o batismo com o Espírito Santo é seguido pelo falar em línguas.[42] Entretanto, o livro de Atos igualmente relata várias outras ocasiões, que podem ser descritas como “batismo com o Espírito Santo,” em que as línguas não aparecem, como a conversão dos três mil no dia do Pentecoste,[43] o caso dos Samaritanos,[44] e a conversão de Saulo.[45] Embora o argumento do silêncio não seja conclusivo, no mínimo revela que, para o autor de Atos, as línguas não eram indispensáveis como evidência do batismo com o Espírito Santo. Quando o autor de Atos as menciona ao narrar o ocorrido na casa de Cornélio e com os discípulos de João Batista, seu propósito é deixar claro que a descida do Espírito sobre estes grupos foi da mesma ordem do ocorrido no Pentecoste, como desdobramentos de um evento inaugural único. Em nenhum lugar do Novo Testamento as línguas são mencionadas como a evidência normal do batismo com o Espírito Santo, ou da Sua plenitude, para os crentes, após o Pentecoste. A evidência inconfundível da plenitude espiritual, segundo Paulo, é o fruto do Espírito.[46] Portanto, o falar em línguas não deve ser considerado como a evidência de nenhuma destas duas experiências.

A Natureza das Línguas


            Quanto à exata natureza das línguas faladas miraculosamente no Novo Testamento, devemos buscar indícios nos relatos do livro de Atos e na primeira carta de Paulo aos Coríntios. O final do Evangelho de Marcos (16.9-20) traz o falar “novas línguas” como um dos sinais que haveriam de acompanhar os que crêem (v. 17). Alguns têm sugerido que as “novas línguas” ali mencionadas se referem a um novo tipo de línguas, diferente da linguagem humana. Entretanto, o adjetivo kaino/j (“novo”), empregado na expressão, não significa necessariamente “um novo tipo,” mas simplesmente algo que é novidade, ainda não costumeiro ou conhecido (comparar com At 17.21), em oposição a palaio/j, “velho”. O sentido natural seria o de falar línguas até o momento ainda não faladas pelos que criam, e portanto, uma novidade para eles. A palavra traduzida como “línguas,” aqui, e em todo o Novo Testamento, é a palavra normal em grego para linguagem humana, glw=ssa.
            Parece evidente que as línguas descritas em Atos 2 eram idiomas humanos conhecidos pelos ouvintes presentes por ocasião do Pentecoste.[47] A declaração de Lucas em At 2.4 deixa pouca dúvida de que o milagre foi o de os apóstolos falarem em outras línguas que não as suas próprias, e não, como alguns têm sugerido, o de os presentes ouvirem em suas próprias línguas.[48] O fenômeno, pois, foi dictivo, e não auditivo. Não há qualquer indício de que as línguas faladas nas demais ocasiões mencionadas em Atos fossem de natureza diferente. Pedro considerou o que ocorreu na casa de Cornélio como sendo idêntico ao fenômeno ocorrido em Pentecoste (At 11.15).
            Quanto às línguas mencionadas por Paulo na sua primeira carta aos Coríntios, embora sua exata natureza seja de mais difícil interpretação, não há qualquer evidência exegética, teológica, ou histórica, de que fossem diferentes do precedente estabelecido em Atos, ou seja, dos idiomas falados no Pentecoste. Alguns têm apontado para a expressão “outras línguas,” que ocorre várias vezes em 1 Co 14, como indício de que se trata de línguas diferentes dos idiomas humanos. Porém, a palavra “outras” não ocorre no original grego, tratando-se de uma interpretação dos tradutores para o português.[49]
            Alguns ainda apelam para 1 Co 14.2 para apoiar a idéia de que Paulo está lidando em 1 Coríntios com um fenômeno distinto de At 2.4-11. O texto afirma que “quem fala em língua, não fala a homens, senão a Deus, visto que ninguém o entende, e em espírito fala mistério.” Porém, à luz do contexto, transparece que Paulo está se referindo ao que fala em língua, e o mesmo não é entendido ou interpretado. Para os que o ouvem, o sentido é desconhecido. Portanto, é um mistério. Este seria o efeito se alguém falasse em um idioma humano completamente desconhecido dos seus ouvintes. Neste sentido, ele fala não aos homens, mas a Deus.[50] A palavra grega traduzida em 1 Co 14.2 como “língua” é glw=ssa, que é a palavra usada comumente para “linguagem” ou “idioma”, que ocorre também em Atos. Além disto, devemos ainda notar que “falar mistérios” pode também significar “falar um mistério divino ainda não revelado,” ver 1 Co 2.7. A expressão “gemidos inexprimíveis” em Rm 8.26, semelhantemente, não pode ser tomada como referência ao dom de línguas, mas sim como referência à intercessão do Espírito pelo crente.
            Caso as línguas faladas em Corinto, ou em qualquer outra igreja neotestamentária, fossem diferentes das faladas em Atos, esperar-se-ia que o apóstolo Paulo, ou outro escritor do Novo Testamento, estabelecesse a diferença em seus escritos. O silêncio de Paulo sobre a natureza das línguas, em sua primeira carta aos Coríntios, revela que o apóstolo está assumindo que seus leitores, vivendo alguns anos após o Pentecoste, estavam a par do que ocorrera naquela ocasião. À luz do precedente estabelecido em Atos, torna-se mais natural supor que as línguas de Corinto eram, como em Atos, idiomas humanos. Devemos observar que há várias evidências a este favor na própria carta aos Coríntios. Paulo claramente se refere ao dom como sendo falar “línguas de homens” (1 Co 13.1). A expressão “e de anjos” foi possivelmente adicionada por Paulo como exagero intencional, como também as expressões seguintes “conhecer toda a ciência” e “ter fé capaz de remover montes.”[51] Em 1 Co 14.20-21 Paulo claramente se refere a idiomas humanos. O dom de “interpretar” (1 Co 12.10, e(rmhnei¿a glwssw½n) pode também ser entendido como tradução de um idioma conhecido para outro (ver At 9.36; Jo 1.42). Os argumentos acima, se tomados juntamente com o precedente em Atos, constituem-se em indício importante de que as línguas mencionadas em Corinto e no resto do Novo Testamento são um único e mesmo fenômeno. Em nenhum lugar a Escritura fala de dois dons de línguas distintos, e nem existem indícios inegáveis nas mesmas que nos obriguem a crer na existência de dois fenômenos distintos.[52]

O Propósito das Línguas

Evidenciar a Universalidade da Graça


            As línguas mencionadas no livro de Atos ocorreram por ocasião da descida do Espírito Santo sobre judeus (2.1-13), sobre gentios que eram simpatizantes do judaísmo (10.44-46; 11.16-17), e finalmente sobre alguns discípulos de João Batista (19.1-7). Aparentemente, elas funcionaram como evidência externa da descida do Espírito sobre estes diferentes grupos, refletindo o progresso do Evangelho a partir dos judeus, passando por grupos intermediários até alcançar, finalmente, os gentios, conforme Jesus determinou em At 1.8. Podemos concluir que, como evidência do cumprimento das diferentes etapas do Pentecoste, as línguas cessaram.

Sinal do Juízo de Deus sobre os incrédulos


            É importante ainda notar que as línguas serviram como sinal do juízo de Deus sobre os descrentes. Escrevendo aos Coríntios sobre o propósito das línguas, Paulo afirma: “Na lei está escrito: Falarei a este povo por homens de outras línguas e por lábios de outros povos, e nem assim me ouvirão, diz o Senhor. De sorte que as línguas constituem um sinal, não para os crentes, mas para os incrédulos” (1 Co 14.20-22). A citação de Paulo vem de Is 28.11-12. Nesta passagem, Isaías profetiza a invasão de Israel pelos caldeus, povo cuja língua era totalmente desconhecida para os judeus. Os gritos dos soldados caldeus invasores eram o sinal de que o juízo de Deus estava se abatendo sobre a nação incrédula. A profecia de Isaías baseia-se no que Moisés escreveu em Dt 28.49-53, sobre Deus usar um povo de linguagem desconhecida para castigar Israel em decorrência da desobediência, um tema também desenvolvido em Jr 5.15 (ver ainda Is 33.19).
            Paulo, por sua vez, partindo da profecia de Isaías, aplica o mesmo princípio aos seus dias, ao escrever aos Coríntios sobre o propósito do dom de línguas. Assim como no passado o juízo de Deus sobre os judeus descrentes evidenciou-se através da destruição da nação por um povo cuja linguagem lhes era desconhecida, assim também o juízo de Deus sobre os judeus descrentes na época do Novo Testamento, tirando-lhes o Reino e passando-o para outro povo, manifestou-se através das línguas faladas miraculosamente pelos gentios que receberam o Messias de Israel. [53] Portanto, como sinal do juízo de Deus sobre um Israel incrédulo, as línguas serviram a um propósito histórico e definido. Assim, podemos concluir que, sob o prisma de sinal do juízo de Deus, as línguas cessaram.

Edificação da Igreja


            Em sua primeira carta aos Coríntios, o apóstolo Paulo enfatiza a edificação da Igreja como sendo o propósito de todos os dons espirituais. As línguas, portanto, onde não entendidas, e sem interpretação, eram proibidas por ele, visto que não traziam edificação aos que as ouviam.[54] Seu uso individual particular tampouco foi encorajado pelo apóstolo. Alguns, baseando-se em 1 Co 14.4, têm argumentado que as línguas também foram dadas para a edificação individual do que fala. [55] A passagem, entretanto, ainda que implicitamente admitindo a possibilidade de edificação individual daquele que fala, não autoriza o uso em particular do dom para proveito apenas do que fala, já que os dons são dados para o benefício de todos os membros da Igreja (ver 1 Pd 4.10; 1 Co 12.7,25; etc.). Ainda que Paulo não minimize a realidade do dom de línguas, ele o considera como possuindo um valor inferior aos dons que utilizam palavras inteligíveis.[56] Paulo, pois, dá preferência à profecia, pois esta edifica a Igreja (1 Co 14.1-4). Embora admitindo o orar e o cantar em línguas, Paulo expressa que é melhor orar e cantar também com o entendimento (14.15). A preferência do apóstolo inspirado, “prefiro falar na Igreja cinco palavras com meu entendimento, para instruir outros, a falar dez mil palavras em outra língua” (14.19), claramente demonstra que as línguas ocupam lugar absolutamente secundário nas reuniões do povo de Deus. Mesmo não proibindo, ele desencoraja o seu uso (1 Co 14.39-40). Portanto, mesmo os que rejeitarem a argumentação sobre a natureza das línguas, certamente deverão levar em conta a argumentação sobre o propósito por excelência dos dons: a edificação da Igreja.

A Contemporaneidade das Línguas

Sob o ponto de Vista Textual


            As Escrituras ensinam e a Igreja crê que, quando encaradas como evidência da universalidade da graça e como sinal do juízo de Deus sobre os incrédulos, as línguas cessaram, havendo cumprido aquelas finalidades históricas. No que se refere ao seu propósito de edificação da Igreja, o Novo Testamento, entretanto, não explicita a cessação ou continuação do dom de línguas além do período apostólico. Assim, a questão da contemporaneidade do dom de línguas não pode ser determinada de forma final a partir dos dados escriturísticos. Em geral, podemos mencionar duas posições antagônicas sobre o assunto: a de que as línguas cessaram como um todo, e a de que as línguas permanecem hoje como durante o período apostólico.
            Os que crêem na cessação absoluta do dom de línguas têm, às vezes, apelado para 1 Co 13.10 como evidência. Entretanto, esta passagem  não pode ser usada como prova indiscutível da cessação das línguas, visto que não é claro no texto que to\ te/leion, “o que é perfeito,” se refira quer ao fechamento do Cânon, quer à maturidade espiritual da Igreja, podendo perfeitamente ser uma referência à Segunda Vinda de Cristo. [57]
            Os que crêem na plena contemporaneidade das línguas freqüentemente se esquecem do ensino bíblico claro sobre a natureza e propósitos das mesmas, tanto em suas ocorrências em Atos como em Corinto. A ênfase do Novo Testamento na edificação da Igreja, como sendo o propósito principal de quaisquer dos dons, aparenta estar ausente em boa parte do atual movimento de línguas. Além do fato de que não existem provas claras de que idiomas estejam sendo falados, as línguas são mormente faladas por todos ou pela maioria, durante os cultos públicos, e isto ao mesmo tempo, e sem interpretação, em clara dissidência dos mandamentos apostólicos em 1 Co 14.26-37, estando assim ausente o propósito principal das línguas, que é a edificação dos fiéis.

Sob o Ponto de Vista Histórico


            A História da Igreja registra que as línguas cessaram algum tempo após a era apostólica. A Igreja pós-apostólica, depois da crise gerada pelos exageros do Montanismo, abandonou definitivamente a prática de línguas e profecias.[58] Crisóstomo, um teólogo do século IV, testificou em seus escritos que as línguas e outros dons “espetaculares” haviam cessado tão antes de sua própria época, que ninguém mais sabia ao certo das suas características. [59] Assim, através dos séculos, a Igreja vem servindo a Deus, evangelizando o mundo e sendo edificada sem o pretenso auxílio das mesmas.[60]

Sob o ponto de Vista Teológico


            A Escritura ensina e a Igreja crê que, em Sua soberania, Deus pode conceder o dom de línguas à Igreja quando Lhe aprouver, em qualquer período da História. A Escritura também ensina e a Igreja crê igualmente, que uma manifestação genuína do dom de línguas deverá sempre seguir o padrão revelado pelo próprio Deus nas Escrituras, quanto à sua natureza, seu propósito, e sua utilização. A Igreja não se sente compelida a aceitar como genuínas quaisquer manifestações contemporâneas de “línguas” que não se conformem ao precedente estabelecido pelo Espírito Santo nas Sagradas Escrituras. Cabe aos que acreditam e têm ensinado que Deus tem renovado esse dom na Igreja contemporânea, o ônus de fornecer evidências claras e inequívocas de que estas coisas são assim. Afirmações ousadas nesta área, que não podem ser substanciadas pelas Escrituras, e experiências pessoais cuja genuinidade não pode ser comprovada, têm antes semeado confusão e discórdia do que promovido a paz, a unidade, e a edificação da Igreja.

O Dom de Profecia

A Natureza da Profecia


            Os profetas do Velho Testamento foram pessoas vocacionadas por Deus, que falaram da parte de Deus e comunicaram corajosamente Sua mensagem ao Seu povo, a nação de Israel.[61] Parte das profecias veio a ser escrita e registrada no Antigo Testamento.[62] A profecia consistia não somente da predição de eventos futuros relacionados com a ação de Deus na história, os quais se cumpriram literal e infalivelmente,[63] mas especialmente da exposição desses eventos e sua aplicação aos dias em que os profetas viveram.[64] As expressões, “assim diz o Senhor” e “veio a mim a Palavra do Senhor dizendo,” caracterizavam a palavra inspirada e infalível dos profetas, que deveria ser recebida pelo povo de Deus como Sua palavra. O ministério desses profetas encerrou-se séculos antes da vinda de Cristo ao mundo.[65]
            Os sucessores dos antigos profetas foram os apóstolos do Novo Testamento, os quais também receberam um chamado específico,[66] predisseram futuros eventos, entre os quais a segunda vinda do Senhor e o juízo final,[67] foram inspirados para escrever o Novo Testamento,[68] e a palavra deles deveria ser recebida, à semelhança dos profetas antigos, como Palavra de Deus, cheia de autoridade e definitiva.[69]
            Pouco sabemos acerca dos profetas do Novo Testamento. À semelhança dos profetas do Antigo Testamento, eles eram capazes de prever futuros eventos, os quais se cumpriram exatamente como preditos,[70] e também exortavam e confortavam as igrejas.[71] Alguns profetas participaram, com os apóstolos, da recepção da revelação fundamental de Cristo e da inclusão dos gentios na igreja e, portanto, como receptores desta revelação fundamental, estão na base histórica e teológica da igreja.[72]
            Quanto ao ministério dos profetas nas igrejas locais, pouco sabemos. Historicamente, tem-se entendido a profecia neotestamentária como sendo a própria proclamação da Palavra. Esta posição se harmoniza com passagens do Novo Testamento onde a profecia é descrita como trazendo instrução, edificação e conforto à Igreja (cf. 1 Co 14.3). A condição para que um profeta falasse era que recebesse “revelação” da parte de Deus (1 Co 14.30). Muitos estudiosos acreditam que Paulo aqui não está usando a palavra “revelação” (a)poka/luyij) no mesmo sentido da revelação histórica e única dada aos apóstolos (cf. Rm 16.25-26; Cl 1.26; Gl 1.15-16), mas sim num sentido secundário, como iluminação ou mesmo direção em circunstâncias especiais relacionadas com o ministério apostólico (ver Gl 2.2; At 16.9; 18.9). O mais provável, tendo em vista 1 Co 14.3 e At 15.32, é que a revelação recebida pelos profetas nas igrejas locais consistia em uma mensagem baseada nas Escrituras, que visava a edificar, a confortar e a instruir a Igreja, à semelhança dos profetas do Antigo Testamento, cuja atividade principal consistia em aplicar a Lei de Deus às consciências do povo, exortando, instruindo, sondando os corações e consolando.[73] Fosse qual fosse a natureza da profecia, deveria ser examinada e julgada pela comunidade ou demais profetas (observe o imperativo “julguem” em 1 Co 14.29, diakrine/twsan), para ver se estava em harmonia com a doutrina apostólica (notar como Paulo exige dos profetas reconhecimento de que seu ensinamento é Palavra de Deus, 1 Co 14.37). Está claro que as palavras dos profetas não deviam ser desprezadas,[74] porém, não eram para ser aceitas sem avaliação e exame, ao contrário das palavras dos profetas do Antigo Testamento.

A Contemporaneidade da Profecia


            A Escritura ensina e a Igreja crê que, como instrumento para predizer as várias etapas do plano divino de redenção, a profecia cumpriu sua finalidade através dos antigos profetas e dos apóstolos, os quais registraram de forma inspirada e infalível as etapas ainda futuras da História da Redenção, como a Segunda Vinda de Cristo, a ressurreição dos mortos e o juízo final.[75] Assim, como veículo de revelação divina, ela cessou com os apóstolos e profetas, os quais lançaram os fundamentos da Igreja de Cristo.[76]
            As Escrituras registram que Deus se revelou muitas vezes e de muitas maneiras através dos profetas ao povo do Antigo Pacto, e que, agora, nos últimos dias, se revelou através do Seu Filho (Hb 1.1-2). Essa revelação em Cristo se encontra registrada nas Escrituras, a qual é a nossa única regra de fé e prática, e através da qual Deus ordinariamente guia o Seu povo. Ainda que no Novo Testamento se achem registrados alguns casos de orientação divina através de profecia,[77] os mesmos não devem ser tomados como normativos para a Igreja de hoje, visto estarem ligados à História da Redenção, como no caso mencionado em At 21.11, ou por se tratarem de ocorrências isoladas das quais pouco podemos saber pelos textos (ver 1 Tm 1.18 e 4.14). Assim, revelações ou predições de eventos relacionados com a vida de indivíduos não devem ser encorajadas, esperadas como ocorrência normal e costumeira durante as reuniões do povo de Deus, e nem recebidas sem avaliação e exame.
            A profecia, como exposição e aplicação das Escrituras no poder do Espírito Santo, permanece na Igreja de Cristo em todas as épocas, e deve ser desejada e recebida como sendo o melhor dos dons (1 Co 14.1,39). De acordo com Ap 19.10, “o testemunho de Jesus é o espírito da profecia,” significando que o propósito e o cerne da profecia é o testemunho da verdade sobre Cristo, a qual se encontra revelada nas Escrituras (ver Jo 5.39).
            Ainda que a Igreja reconheça que a verdadeira natureza da profecia e do ministério dos profetas das igrejas locais na época da Igreja Primitiva não é absolutamente explícita, ela também reconhece que muito da prática de profecia, em voga em algumas de suas comunidades, não corresponde ao ensinamento bíblico sobre o exercício dos dons no culto público.

ACERCA DA INTERPRETAÇÃO DAS ESCRITURAS SAGRADAS


            A Igreja tem plena consciência do ingresso e da proliferação em seu meio de conceitos e práticas atribuídos ao Espírito Santo na experiência contemporânea, e que são estranhos ao ensino bíblico. Esse estado de coisas deve-se principalmente à forma errônea de pastores e membros de igrejas locais interpretarem as Escrituras. Conquanto devamo-nos alegrar pelo renovado interesse que se observa nas igrejas pela leitura e estudo das Escrituras, é preocupante a forma como alguns vêm interpretando o texto sagrado, partindo de pressupostos da sua própria experiência impondo ao texto sentidos que claramente não fazem parte da intenção original do autor inspirado. Constitui-se prática perigosa atribuir ao Espírito Santo ensino que é produto de interpretação particular de um texto da Escritura, baseado em experiência pessoal, interpretação esta que nada tem a ver com o sentido do texto bíblico. A Igreja entende que na raiz de todas as atuais práticas prejudiciais em seu meio está um sistema de interpretação equivocado.[78]

Interpretações Particulares ou Individuais


            Interpretações individuais e isoladas que fogem do sentido óbvio e original do texto e que apelam para a autoridade da experiência individual para validar o entendimento das Escrituras devem, na verdade, ser rejeitadas. As Escrituras devem ser interpretadas por si mesmas, ou seja, uma passagem bíblica deve ser interpretada à luz de todas as partes, sem se desprezar a iluminação que o Espírito Santo vem concedendo à Igreja através dos séculos, que faz parte da tradição interpretativa acumulada até o presente. As Escrituras foram endereçadas à Igreja, e o Espírito que as inspirou foi dado ao Corpo de Cristo para que o iluminasse no entendimento delas. Assim, a Bíblia não é propriedade de um membro individual, mas da Igreja; portanto, a sua interpretação deve ser feita em consonância com a sabedoria da Igreja acumulada através dos séculos. Nenhum membro tem o direito de ter a sua própria interpretação particular das Escrituras — não foi este o direito que Lutero e os demais Reformadores recuperaram na Reforma.[79]
            Os que atribuem a sua compreensão individual das Escrituras ao Espírito, deveriam igualmente reconhecer e receber a compreensão que o mesmo Espírito concede aos demais membros da Igreja no decorrer da história. Esta é uma verdade incontestável: se as profecias das Escrituras não foram fruto da interpretação individual dos profetas, muito menos hoje pode-se aceitar interpretações particulares daquilo que já nos foi revelado nas mesmas Escrituras.[80]

A iluminação do Entendimento pelo Espírito Santo


            Isto não significa que Deus não possa iluminar o entendimento de um membro da Igreja quanto a um texto em particular. Ele pode, e o faz como Lhe apraz, mas isto não significa que esse entendimento não deva ser analisado e avaliado à luz do entendimento da Igreja, conforme seus símbolos de fé, ou seja, a Confissão de Fé de Westminster, e os Catecismos. Esta iluminação do Espírito Santo para a compreensão das coisas reveladas nas Escrituras, não consiste em uma nova revelação, mas no discernimento divino daquilo que já foi revelado.[81] Ao mesmo tempo em que orienta a Igreja a guardar-se de uma interpretação das Escrituras que parte dos princípios hermenêuticos equivocados da experiência neopentecostal, a Igreja também adverte contra uma interpretação intelectualizada e árida das Escrituras, que se esquece da necessidade da iluminação do Espírito para sua compreensão e de que Deus promete ensinar àqueles que procuram andar em santidade e retidão.[82]

RECOMENDAÇÕES AOS CONCÍLIOS E IGREJAS


            À luz do exposto acima sobre os dons de línguas e profecia, a Igreja Presbiteriana do Brasil, partindo de uma hermenêutica baseada não na experiência individual, mas nos princípios da sua tradição reformada, e sobretudo no entendimento que as Escrituras dão de si mesmas e na busca da iluminação do Espírito, faz as seguintes recomendações aos seus concílios, pastores, oficiais e membros da Igreja:
1.  A doutrina do batismo com o Espírito Santo, como uma "segunda bênção" distinta da conversão, não deve ser ensinada e nem propagada pelos pastores ou membros nas comunidades, por ser biblicamente equivocada.
2.  Os concílios e igrejas locais devem tratar com amor e paciência os pastores e membros das igrejas presbiterianas que professam ter sido batizados com o Espírito Santo, numa experiência distinta da conversão, e devem pastoreá-los e instruí-los na Escritura e na doutrina reformada, para que sejam corrigidos quanto a este modo de crer, e para que demonstrem o fruto do Espírito, que é o sinal inequívoco de toda atuação verdadeira do Espírito.
3.  Todo ensino sobre as línguas e profecias que entende a prática moderna como uma experiência revelatória, isto é, uma experiência na qual nova revelação é recebida, é contrário ao caráter final da revelação bíblica e à autoridade das Escrituras como única regra de fé e prática.
4.  Todo ensino sobre as línguas e profecias que entende estes fenômenos como um sinal do batismo com o Espírito é contrário à Escritura, bem como todo ensino que vê as línguas e profecias como sinal de espiritualidade.[83]
5.  Toda prática do fenômeno das línguas e de profecias que cause divisão e dissensão dentro do Corpo de Cristo, e que não resulte em instrução e ensino em língua conhecida, é contrária ao propósito dos dons do Espírito, que é a edificação da Igreja.[84]
6.  Toda prática do fenômeno das línguas e de profecias que não siga as orientações de 1 Co 14.27-28, é contrária ao ensino bíblico e deve ser rejeitada, constituindo-se em desobediência à vontade revelada de Deus. Ou seja, que falem somente dois, ou no máximo três, cada um por sua vez, e que haja intérprete (depreende-se que Paulo se refere a outra pessoa que não o que falou em línguas).
7.  A base para as nossas formulações doutrinárias é a Escritura, e não as experiências individuais — por mais emocionantes e preciosas que elas sejam. Portanto, a Igreja recomenda o estudo sério de todos os fenômenos e experiências, à luz da Palavra da Deus.
8.  A Igreja recomenda que os Concílios estudem esta Pastoral e que cultivem o diálogo com a Comissão Permanente de Doutrina.




SDG



[1] Jl 2.28,29; ver Is 32.15; 59.21; Ez 36.26,27; 37.14.
[2] Jo 7.37-39; ver Mt 3.11; Lc 24.49; Jo 14.16,17,26; 15.26; 16.7-16; At 1.4-8.
[3] At 2.16-21.
[4] 1 Co 12.13; Ef 1.13-14. A tradução em 1 Co 12.13 da expressão e)n e(niì pneu/mati (“em um Espírito”), é debatida, mas a maioria das traduções em inglês, alemão e francês, a tem traduzido como “por um Espírito,” entendendo que a preposição aqui tem força instrumental.
[5] At 2.16-17; 2.32-36.
[6] At 1.8; Lc 24.49.
[7]Tt 3.5; At 2.38; Rm 5.5; 8.9; 1 Co 12.13. Ver At 11.17; 19.2, e ainda Ef 1.13-14; 2 Co 1.22; Ef 4.30.
[8] 1 Co 12.3; Rm 8.9-10; 1 Jo 4.2.
[9] At 10.44-46.
[10] At 8.14-16; 19.6. Neste sentido, aquelas experiências foram únicas, já que não temos mais apóstolos como os Doze ou Paulo.
[11] Mt 3.11; Mc 1.8; Lc 3.16; e At 11.16.
[12] A expressão “todos nós” abrange mais que somente a comunidade de Corinto, e aplica-se a todos os crentes, conforme o restante do verso 13 indica. No original grego, “todos nós,” h(meiÍj pa/ntej ocupa posição enfática. O aoristo indicativo  e)bapti¿sqhmen)) aponta para uma ação pontilear realizada no passado. Por “pontilear” entende-se aquela qualidade de ação do aoristo indicativo, em que a ação é encarada do ponto de vista da sua realização, como um ponto, em contraste com o aspecto linear de outros tempos verbais, em que a ação é vista como ainda em andamento.
[13] Ef 5.18. A ordem de Paulo, plhrou=sqe, pode ser traduzida como “enchei-vos” (reflexivo) ou “deixai-vos encher” (passivo). Entretanto, a maioria dos intérpretes prefere o sentido passivo.
[14] 1 Co 12.13; Cl 2.13; Jo 3.3-8; Ef 2.1-5.
[15] Rm 10.13-14; Gn 4.26; Jl 2.32; 1 Co 12.3. Uma comparação de Ef 5.18 com Cl 3.16-17 mostra que, para Paulo, ser cheio do Espírito está intimamente associado à palavra de Cristo.
[16] Gl 5.25; Rm 8.4,13,14; Gl 3.3; 5.16-18.
[17] 2 Tm 2.15; 3.16-17.
[18] Jo 15.4-7; Gl 5.22-23.
[19] At 4.8,13,31.
[20] A estrutura na língua original da passagem Ef 5.18-6.9 demonstra que as exortações referentes ao casamento (5.22-32), criação de filhos (6.1-4), e relacionamento no trabalho (6.5-9), são diretamente dependentes da plenitude do Espírito ordenada em 5.18.
[21] At 2.41-47; Mt 28.18-20.
[22] Ef 4.25-30; 1 Ts. 5.19-22. “Apagar,” no grego, sbe/nnumi, significa extinguir as chamas de um fogo, ver Hb 11.34. Em referência ao Espírito Santo, significa fazer parar a sua obra ou atividade, a qual, no contexto de 1 Tessalonicenses, é a obra de conversão e santificação, ver 1 Ts 1.5-6, 4.8; 5.23.
[23] Lc 11.13. Alguns manuscritos têm “coisas boas” em lugar de “Espírito Santo,” mas são variantes inferiores, introduzidas possivelmente com o propósito de fazer Lucas concordar com Mt 7.11. A leitura “dará o Espírito Santo” é bem atestada na maioria dos manuscritos. Ver ainda Jo 3.34, que se refere ao ministério terreno de Cristo.
[24] Examinar. At 5.32; 15.8; Rm 5.5; 2 Co 1.22; 5.5; 2 Tm 1.7; 1 Jo 3.24.
[25] As exceções são: At 8.18 (o verbo “dar” no presente aponta para o evento ocorrido diante dos olhos de Simão Mago); 1 Ts 4.8 (o particípio presente “dando” tem aspecto temporal idêntico ao verbo principal, “chamou,” em 4.7, que está no aoristo); 1 Jo 4.13 (o perfeito aponta para uma ação já realizada) e Ef 1.17 (nesta passagem debate-se que pneu=ma se refira ao Espírito Santo).
[26] 1 Co 12.1; 14.20.
[27] 1 Co 12.31; 14.1.
[28] 1 Co 14.40; 14.26-33. Ver especialmente 14.23.
[29]  No Antigo Testamento há outros dons mencionados como sendo do Espírito, mas que, contudo, não têm sido considerados historicamente como dons espirituais. Tanto os dons naturais (ver Ex 31.2-5), como os chamados dons espirituais, vêm do mesmo Espírito, que capacita os homens a servirem à comunidade horizontal e verticalmente, ou seja, na área do relacionamento humano e no relacionamento com Deus.
[30] 1 Co 12.11; Hb 2.4.
[31] 1 Co 12.31. 14.1; 14.39. “Melhores” no sentido de serem os mais úteis à comunidade, não na qualificação de si próprios, já que todos provêm do mesmo Espírito.
[32] 1 Pe 4.10.
[33] Vide discussão abaixo.
[34] 1 Co 14.12,26; Ef 4.11-12.
[35] 1 Co 12.7.
[36] Lembrar que Deus Pai e Deus Filho também são referidos como doadores dos dons, cf. Ef 4.11; 1 Co 12.6.
[37] Os Doze e Paulo receberam, mais propriamente, o ofício de apóstolos, e são vistos no NT como sendo os lançadores dos fundamentos da Igreja Cristã, ver Ef 2.20; 4.11-13; 1 Co 3.9-11; 1 Co 12.28; Ap 21.14. Os apóstolos não apontaram sucessores; portanto, o apostolado, entendido como ofício, cessou com suas mortes. Se bem que através da História da Igreja homens fossem levantados por Deus cujos ministérios foram quase “apostólicos” (por exemplo, Calvino, Lutero, etc.), os mesmos não tiveram, como Paulo e os Doze, inspiração divina que permitisse a inerrância dos seus escritos.
[38] 1 Co 12.8. As expressões lo/goj sofi¿aj\ e lo/goj gnw¯sewj têm recebido as mais variadas interpretações dos estudiosos ao longo da história da Igreja. Lo/goj sofi¿aj, por exemplo, tem sido interpretada como pregação apostólica, discurso instrutivo, declarações inspiradas, e sabedoria prática, entre outras opiniões.
[39] 1 Co 12.28,29.
[40] At 2.1-4; 8.14-17; 10.44-48; 19.6-7.
[41] At 11.15.
[42] Ver At 2.1-4; 10.44-47; 19.1-7.
[43] É evidente em At 2.38-39 que os três mil haveriam de receber o mesmo Espírito que os apóstolos receberam. Entretanto, Lucas limita-se a narrar que os mesmos foram batizados com água e agregados à Igreja, cf. 2.41.
[44] At 8. 14-18. Embora não mencionado, é possível que o fenômeno tenha também ocorrido naquela ocasião.
[45] At 9.17-19. A afirmação de Paulo em 1 Co 14.18, de que ele fala em línguas, não implica necessariamente que ele as tenha falado em sua conversão (ou batismo com o Espírito).
[46] Gl 5.22-23.
[47] At 2.6,8,11. Estes versículos se referem às línguas maternas dos que as ouviram naquela ocasião, das quais quatorze são citadas por Lucas. Portanto, fica claro que eram línguas estrangeiras, e não “estranhas.” A expressão “línguas maternas” em At 2.8, literalmente, tv= i¹di¿# diale/kt% h(mw½n e)n v e)gennh/qhmen, “no nosso próprio dialeto em que fomos nascidos,” reforça este ponto.
[48]O uso de e(teraij, “outras,” por Lucas em At 2.4 (“começaram a falar noutras línguas”) não fornece apoio decisivo para a sugestão de que as línguas faladas em Pentecoste eram de um gênero diferente, e que, portanto, não eram idiomas humanos. O adjetivo e(teroj “outro” freqüentemente expressa a idéia de um outro item de uma mesma série, sem a conotação de que se trata de algo diferente em sua essência. Por exemplo, “do outro barco” (Lc 5.7), “outro dos discípulos” (Mt 8.21), “outra (passagem da) Escritura” (Jo 19.37).
[49] O adjetivo “estranha,” colocado pelos tradutores da versão Almeida Revista e Corrigida após glw=ssa, na passagem de 1 Co 14, não aparece no texto grego, e certamente tem contribuído para difundir a idéia errônea de que o fenômeno tinha a ver com línguas misteriosas, intraduzíveis e estáticas.
[50]A expressão “não fala aos homens, mas a Deus” ainda pode ser entendida à luz de At 2.11 e 10.46. É aparente destas passagens que os apóstolos no Pentecoste e os Gentios na casa de Cornélio dirigiram-se a Deus ao falar em línguas (idiomas), e não aos homens ali presentes.
[51]Nesta passagem Paulo utiliza o argumento conhecido como redutio ad absurdum, que consiste em argumentar hipoteticamente um determinado ponto. Ele não afirma que exista alguém que tenha todo o conhecimento, que tenha fé que remova montes ou que fale línguas de anjos. O que ele afirma é que, mesmo que estas coisas ocorressem, ainda assim, sem amor, elas nada seriam.
[52] Alguns têm defendido a diferença entre as línguas de Atos e de Corinto com base nas diferenças na manifestação do fenômeno nas duas ocasiões: em Atos as línguas foram faladas por todos, não precisaram de intérprete para serem entendidas e vieram de forma inopinada sobre os presentes. Em Corinto, as línguas não eram faladas por todos, careciam de intérprete para sua compreensão e estavam sob o controle dos que falavam. Porém, essas diferenças são mais bem entendidas como circunstanciais, e não como essenciais. Em ambos os casos, a essência do milagre consistia em pessoas falando fluentemente em línguas que lhes eram previamente desconhecidas.
[53] Sobre a passagem do Reino de Deus dos judeus para os que crêem, consulte  Mt 21.33-46.
[54] 1 Co 14.27-28.
[55]  Alguns estudiosos sugerem que a auto-edificação mencionada em 1 Co 14.4 é possível quando o que fala entende o que diz, já que a idéia de edificação no contexto pressupõe entendimento. (Mas, ver 1 Co 14.13-15). Outros vêem a possibilidade de Paulo estar usando uma ironia, visto que ele consistentemente usa o termo oi)kodome/w (“edificar”) em referência à edificação mútua dos crentes.
[56] Ver 1 Co 14.1-9.
[57] Uma das dificuldades com as duas primeiras interpretações mencionadas, é que ambas requerem a cessação da profecia e da ciência, juntamente com as línguas, após o fechamento do Cânon ou da chegada da maturidade da Igreja, cf. 1 Co 13.8, apesar de que Paulo considera a profecia e a ciência como essenciais para a edificação da Igreja, cf. 1 Co 14.3,6.
[58] O Montanismo foi um movimento apocalíptico cristão que surgiu no século II, liderado por Montano, um cristão da Frígia, que alegava ter recebido uma revelação direta do Espírito Santo de que ele, como representante do Espírito, lideraria a Igreja durante o último período dela aqui na terra. Ajudado por duas mulheres que eram consideradas profetisas, Montano fundou uma seita que procurava a renovação na Igreja do entusiasmo, dons, poder e sinais ocorridos durante o período apostólico. Devido aos inúmeros abusos e extremos ocorridos no movimento, a Igreja o condenou como herético já no século II, embora o Montanismo tenha continuado, mesmo que com menor influência, até o século VI, quando cessou finalmente.
[59] Ver a homília 29 de Crisóstomo baseada em 1 Coríntios.
[60] O penoso trabalho de tradução das Escrituras, no esforço de evangelização desenvolvido pela Igreja, cumprindo o propósito da universalidade da graça, vem sendo até hoje realizado através do estudo de gramática, métodos de tradução e anos de laborioso esforço por parte dos missionários e especialistas. Os maiores movimentos cristãos espirituais e missionários no mundo, desde a era apostólica, ocorreram sem a concorrência do dom de línguas, como por exemplo, a Reforma Protestante, os reavivamentos espirituais dos séculos XVII a XIX, e o moderno movimento missionário.
[61] Hb 1.1; Lc 1.70.
[62] 2 Pe 1.21; 2 Tm 3.16; cf. o termo “Escrituras proféticas” em Rm 16.26.
[63] O teste da verdadeira profecia era o seu cumprimento, ver Dt 18.20-22; cf. 1 Rs 13.3,5; 2 Rs 23.15-16.
[64] Há várias palavras para “profeta” no Velho Testamento. A mais usada é )ybn (nabi). Ela expressa a idéia de alguém que fala por outro, como “sua boca,” ver Ex 4.16; 7.1. Este sentido básico da palavra pode ser visto em Dt 18.14-22. O profeta era, então, primariamente, alguém que falava da parte de Deus, inspirado e orientado por Ele.
[65]Os escritores do Novo Testamento se referem aos profetas antigos como um grupo fechado e definido, ver Mt 23.29-31; Mc 8.28; etc.
[66] Mt 10.1-4; Gl 1.15-16.
[67] 1 Co 15.51-52; 2 Ts 2.1-12. O livro de Apocalipse é uma profecia (ver Ap 1.3; 22.18-19) escrita por um apóstolo.
[68] 1 Ts 2.13; 2 Pe 3.16.
[69] Gl 1.8-9; 1 Co 14.37.
[70] Ver At 11.27-28; 21.11. Notar que estes são os dois únicos casos registrados no Novo Testamento de profecia predictiva relacionada com eventos contemporâneos e a vida particular de alguém. Notar ainda que, em ambos os casos, estas profecias envolviam a vida do apóstolo Paulo e suas viagens missionárias. As palavras de Ágabo cumpriram-se literalmente, à semelhança das palavras dos antigos profetas.
[71] Ver At 15.32; 1 Co 14.3.
[72] Ef 3.5.
[73] Ver 1 Co 14.3,31; 14.24-25. Sobre o efeito penetrante da Palavra, e seu poder para sondar os corações, ver Hb 4.12-13.
[74] 1 Ts 5.20.
[75] Em Ap 22.18-19 proíbe-se o acréscimo ou a omissão de qualquer coisa à profecia que João escreveu. Ao ser colocado pela Igreja ao fim do Cânon das Escrituras, este mandamento adquire uma dimensão mais ampla, que extrapola o livro de Apocalipse, e se estende para os demais livros bíblicos, refletindo a convicção da Igreja de que a profecia, como veículo da revelação divina, encerrou-se com o Cânon.
[76] Ef 2.20; 3.5. O fundamento da Igreja é Cristo. Ao difundir o Evangelho, os apóstolos estavam lançando o fundamento da Igreja (cf. 1 Co 3.10-11).
[77] Ver At 21.11; 1 Tm 1.18; 4.14.
[78] O Senhor Jesus denunciou o erro religioso dos saduceus como devido a uma interpretação errada das Escrituras, Mt 22.29. Semelhantemente, os fariseus, com suas interpretações casuísticas da Lei de Moisés, criaram um sistema religioso equivocado, Mc 7.6-13.
[79] Ao serem acusados de impor suas interpretações particulares aos outros, Lutero e Calvino responderam demonstrando que suas interpretações podiam ser encontradas nos escritos dos primeiros Pais da Igreja (líderes de 100 a 500 D.C.). É significativo que a cada nova edição das suas “Institutas da Religião Cristã,” Calvino adicionava mais e mais citações dos Pais da Igreja e de teólogos e exegetas que o antecederam.
[80] 2 Pe 1.20. O termo e)pilu/sewj traduzido por "elucidação" deve ser entendido como "interpretação," conforme a NVI (Nova Versão Internacional).
[81] Confissão de Fé, I , 6.
[82] Sl 119.18, 33-34; Lc 24.44-45.
[83] A evidência bíblica mais clara contra este ensino é o fato de que Paulo nega a condição de “espirituais” aos Coríntios, os quais enfatizavam as línguas como um dos melhores dons do Espírito, e os critica como sendo “carnais, meninos em Cristo” (1 Co 2.6; 3.1-3; 14.37).
[84] 1 Co 12.7; Ef 4.10-12; 1 Co 14.4,12,15-17, 19.


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