quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Cura Interior - Posição Oficial da I.P.B.

Essa é outra carta pastoral da I.P.B. que, infelizmente, muitas igrejas parecem não conhecer/divulgar. Copio na íntegra, contudo colocando em um formato melhor para leitura!

“CE - 2005 - DOC. XX:
Quanto ao Documento 78 - Consulta do Sínodo Centro América, quanto ao Movimento de “Cura Interior” – REVER – Restaurando Vidas, Equipando Restauradores. 
Orienta a Igreja Presbiteriana do Brasil seus pastores e concílios com a seguinte pastoral, que deverá ser divulgada na sua íntegra pelo Jornal Brasil Presbiteriano. 
I. Definição e abrangência do conceito: Apesar do termo ser utilizado genericamente como a ação divina nos problemas internos de uma pessoa, "Cura Interior" é um tema mais específico e muito em voga nas nossas igrejas. Ele tem sido desenvolvido e apresentado em vários livros, palestras e  seminários relacionado com a resolução de conflitos internos de personalidade, que resultam em depressão, desânimo, sentimentos de inferioridade, ansiedade e outras sensações adversas que afetam o comportamento das pessoas. O termo, em si, não é restrito ao campo evangélico. Na realidade os evangélicos "tomaram emprestada" essa noção de "cura interior" da psiquiatria e psicologia secular. Como conseqüência, "tomaram emprestado", também, muita terminologia e metodologia que não é derivada estritamente da Palavra de Deus. 
De uma certa forma, "cura interior" popularizou-se como uma TÉCNICA DE ACONSELHAMENTO. Essas são algumas de suas pressuposições básicas: 
1) A maioria dos problemas das pessoas têm raízes no passado, em experiências dolorosas, mal-resolvidas. 
2) Parte essencial do processo de "cura interior" é o perdão às pessoas que causaram os ressentimentos ou
problemas na vida do aconselhado. 
3) As pessoas devem relembrar essas experiências e verbalizar o perdão, em forma de carta, ou de um pronunciamento ao grupo ou ao conselheiro. 
4) "Visualizações", ou seja projetar o que Jesus faria ou diria, nessa ou naquela situação, ou como você estava em uma determinada ocasião ou circunstância, são passos normalmente utilizados no processo. A maioria dos palestrantes e proponentes da "Cura Interior"  presentam-na como sendo parte integrante do trabalho de Cristo, ou seja, ele veio para dar Cura Espiritual (Salvação); Cura Física (libertação de dores e doenças) e Cura Interior (Paz interna). Todos esses aspectos representariam quebra do domínio que Satanás exerceria sobre nós. 
II. Pontos positivos a destacar: Mesmo sendo uma abordagem surgida em meios carismáticos, não podemos deixar de reconhecer que a ênfase no PERDÃO, como uma forma de solução de problemas internos que afligem as pessoas, é uma diretriz bíblica muito saudável. As Escrituras nos ensinam: “a não criar nenhuma ‘raiz de amargura’ e como ela, brotando, contamina” (Ef 4:31 e Hb 12:15); “a perdoar-nos uns aos outros como Cristo nos perdoou” (Ef 4:32 e Cl 3:13); “e a não ficar remoendo o passado e as experiências ruins que porventura tenhamos sofrido” (Fl 3:13-14).
 Quando a ênfase é colocada na oração, ou até na procura de pessoas a quem ofendemos, ou por quem fomos ofendidas (Mt 5:23,24; Mt 18:15,16; Lc. 17:3, 4), isso nos leva a uma sintonia maior com os preceitos de Deus e com a forma de relacionamento que ele quer de cada um de nós. O resultado é uma vida com mais paz e com
"cura interior" de problemas - nesse sentido. 
III. Pontos de Cautela, ou a condenar: Nem sempre os proponentes da "cura interior" defendem ou apresentam os pontos a seguir. Às vezes até, muitos utilizam o termo sem se aperceber das implicações, mas de uma forma genérica. Podemos destacar como pontos de cautela, ou condenáveis, os seguintes: 
(1). Transferência de responsabilidades. Muitas vezes a ênfase da "cura interior" leva as pessoas a procurarem a origem de seus males e problemas sempre nos outros. Com essa abordagem a "cura interior" reflete o célebre "cacoete" da psiquiatria freudiana – a busca desenfreada da responsabilidade alheia para justificar  comportamento inadequado ou até pecaminoso. Muitos crentes são levados a procurar sempre desculpas pelas escolhas erradas, ou sem critério, que fazem. 
Questões meramente circunstanciais, ou que deveriam ser olhadas sob a ótica da providência divina, como a perda de um emprego, um acidente de carro, etc., são relacionadas, sem qualquer base ou critério, a experiências passadas. Enfatizamos o perigo constante da psicologização da teologia e a teologização da psicologia, tão encontradiças nestas técnicas de “cura interior”. 
(2). Regressão. Muitos conselheiros ou palestrantes cristãos advogam a técnica da regressão, na qual você, em sessão grupal ou individual, é levado a relembrar suas experiências na adolescência, infância, no útero, chegando - às vezes – à pré-existência (?!). Essa técnica é estimada por psicólogos da corrente do "treinamento sensitivo" e defendido por muitos porta-vozes da "nova era". Muitas vezes a própria experiência do nascimento é colocada como sendo algo traumático, que tem que ser revivido e confrontado, para que os problemas presentes desapareçam. 
(3). Ênfase na experiência, em vez de nos preceitos da Palavra Revelada – A Bíblia. Muitas respostas "de algibeira" são fornecidas e conclusões pessoais colocadas com um dogmatismo que pertence somente às Escrituras. Nas "regressões" muitas vezes são utilizadas profecias, revelações. Nas "visualizações" procura-se antever o que Cristo estaria fazendo ou dizendo nas situações do passado do aconselhado. 
Via de regra essas "visualizações" produzem diálogos com Cristo que passam a ser determinantes no processo de "cura interior". Tudo isso leva a um esquecimento ou afastamento da Palavra de Deus, como fonte não apenas primária de conhecimento espiritual, mas única também (Sola Scriptura). Não é de espantar que o grande progresso da "cura interior" é nas igrejas e comunidades carismáticas. 
(4) Liberação de perdão a Deus. Muitas das dores e lutas são resultados da ação de Deus e aqueles que sentem rancores, os que sentem “raiva contra Deus” por seus infortúnios, devem “liberar o seu perdão a Deus”.
(5). Demonização. Muitos conselheiros rejeitam (corretamente) a idéia de que o crente possa ser possuído pelo demônio, outros, entretanto, colocam essa possibilidade - que não é bíblica, pois o Espírito Santo não co-habita com o demônio – (Rom 8.9). 
Ocorre que muitos desses que rejeitam a noção de possessão demoníaca do crente, acharam uma maneira de envolver o demônio em todos os problemas: eles chamam de "opressão demoníaca". O Diabo e os seus se apegam aos "ganchos" na vida passada dos crentes para oprimi-los. Faz parte da "cura interior" descobrir esses ganchos (um pecado cometido pelo aconselhado, ou contra ele, um acidente ocorrido, etc.). Uma vez identificado em que gancho o demônio está pendurado, ele deve ser removido, pelo perdão e o demônio repreendido pela "palavra do conhecimento". 
Quando você identifica um grande "gancho" e expulsa o demônio maior, os menores e periféricos, se afastam também. Podemos ver como essa visão providencia, igualmente, desculpas para que os pecados pessoais sejam resultado dessas influências externas. 
Estas tendências seguem o entendimento daquilo que é hoje conhecido como “batalha espiritual”, pelo que recomendamos a leitura do livro do Rev. Dr. Augustus Nicodemus Lopes, publicado pela Casa Editora Presbiteriana, que trata de forma bíblica e conveniente sobre o tema. Possivelmente a pregação de uma visão correta e bíblica, da necessidade de perdão e de uma atitude otimista e alegre com relação à vida, olhando-se para frente, com a esperança que deve caracterizar o cristão, é uma melhor opção do que apegar-se ao rótulo da "cura interior", uma vez que os pontos de cautela e o envolvimento com os carismáticos levam mais perigo do que benefícios ao termo e às técnicas empregadas. 
Existe um livro em Português chamado "Introdução à Cura Interior", de autoria de David Kornfield, publicado pela SEPAL --possivelmente sem a maioria dos excessos apresentados acima. Recentemente o livro recebeu o novo título de "Introdução à Restauração da Alma", com a indicação de que muitas pessoas tinham objeção ao termo "Cura Interior". 
Existem vários livros de David A. Seamands, traduzidos para o português, que falam de cura interior. Esses livros do Seamands são também destituídos de muitos desses excessos, mas a interpretação dos textos bíblicos e sua conseqüente aplicação é muito alegórica, ou seja, não flui normalmente do contexto. 
Concluindo e resumindo com algumas perguntas e respostas específicas: 
1. A idéia de "cura interior" é bíblica? 
Os conceitos de perdão e dos resultados negativos pela falta de perdão são bíblicos. Deve-se discernir o que está sendo pregado como "cura interior". Se a metodologia, mensagem ou processo vem acompanhado de todos os aspectos negativos já mencionados, não é um conceito bíblico. 
2. Há motivo para adotá-la ou não adotá-la? 
Dependendo da definição e o que se pretende com a adoção. 
3. Cristo alguma vez promoveu a cura interior de alguém ou instruiu-nos a fazê-lo? 
Cristo promoveu a grande e final CURA INTERIOR, que é o resgate de nossos pecados e a dádiva da salvação eterna. O conceito moderno de "cura interior" quase que deixa antever  uma certa sensação de que o trabalho de Cristo necessita ser terminado, o que não seria bíblico. Cristo nunca se envolveu em prolongadas sessões de aconselhamento, mas temos de reconhecer que o seu ministério era outro, era o de cumprir os passos relacionados com o calvário da redenção, transmitindo a sua mensagem de julgamento, salvação e vitória sobre a morte. Por outro lado, sua palavra nos instrui a termos um relacionamento intenso com o nosso próximo, no sentido de considerarmos os outros maiores e melhores do que nós mesmos, de levarmos as cargas uns dos outros, de termos preocupação pelos sentimentos e pelas vidas dos outros, de estarmos sempre praticando o perdão e de não alimentarmos remorsos ou ressentimentos. Se entendemos esse modo de vida como a prática da "cura interior", então somos admoestados a tal, porém sem esse rótulo. Tememos, entretanto, que o termo nunca seja utilizado com uma conotação tão simples assim. 
Conclusões e Sugestões finais: 
A. Dada a grande importância do trabalho de aconselhamento pastoral, que somente a Igreja de Jesus Cristo pode fazer e que não pode ser entregue aos místicos e nem aos adeptos da visão freudiana, apresentamos aqui, à guisa de sugestão, a seguinte bibliografia básica, que pode ser utilizada por todos aqueles que receberam de Deus o chamado para a obra do aconselhamento, entendendo também que a Igreja tem sua função terapêutica, a saber: 
1. Conselheiro Capaz – Jay Adams – Editora Fiel; 
2. Aconselhamento Bíblico Redentivo – Rev. Wadislau Martins Gomes – Casa Editora Presbiteriana; 
3. Ídolos do Coração e Feira das Vaidades – David Powlison – Editora Refúgio; 
4. Coletânea de Aconselhamento Bíblico – volumes 1 a 3 – Tradução e adaptação do Journal of Biblical Counseling – SBPV; 
5. Princípios Básicos do Aconselhamento Bíblico – Larry Crabb – Editora Refúgio; 
6. Aconselhamento Bíblico Efetivo – Larry Crabb – Editora Refúgio; 
7. Mudando de Dentro Para Fora – Larry Crabb – Editora SEPAL. 
B. Reconhecendo que, o que falta em muitas de nossas igrejas é a conscientização de que a salvação é  VERDADEIRAMENTE um MILAGRE DE TRANSFORMAÇÃO DA PARTE DE DEUS e não um mero convencimento intelectual experimentado pelas pessoas, se construirmos nossas vidas na conscientização de que fomos alvo desse milagre, fruto do amor de um Deus soberano e procurarmos demonstrar o nosso amor pelo cumprimento dos seus mandamentos, para com ELE e para com o próximo, usufruiremos as bênçãos de termos vidas ajustadas que olham para um presente de ação e um futuro glorioso, em vez de remoermos indevidamente os problemas do passado. 
Esta perspectiva é nada mais, nada menos, do que o nosso entendimento da santificação, nosso chamado para vivermos uma vida equilibrada e sermos, como igreja, uma comunidade que aconselha-se mutuamente, edifica-se e se move para a estabilidade espiritual. 
“Guardemos firme a confissão da esperança, sem vacilar, pois quem fez a promessa é fiel. Encorajando-nos também uns aos outros para nos estimularmos ao amor e à prática das boas obras Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações (aconselhamento) e tanto mais quanto vedes que o dia se aproxima.” - Hebreus 10.23-25.”

Enfim, Há sempre PAZ em Jesus - o Cristo!

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