Essa é outra carta pastoral da I.P.B. que, infelizmente, muitas igrejas parecem não conhecer/divulgar. Copio na íntegra, contudo colocando em um formato melhor para leitura!
“CE - 2005 - DOC. XX:
Quanto ao Documento 78 - Consulta do
Sínodo Centro América, quanto ao Movimento de “Cura Interior” – REVER –
Restaurando Vidas, Equipando Restauradores.
Orienta a Igreja Presbiteriana do
Brasil seus pastores e concílios com a seguinte pastoral, que deverá ser
divulgada na sua íntegra pelo Jornal Brasil Presbiteriano.
I. Definição e
abrangência do conceito: Apesar do termo ser utilizado genericamente como a
ação divina nos problemas internos de uma pessoa, "Cura Interior" é um
tema mais específico e muito em voga nas nossas igrejas. Ele tem sido
desenvolvido e apresentado em vários livros, palestras e seminários relacionado com a resolução de
conflitos internos de personalidade, que resultam em depressão, desânimo,
sentimentos de inferioridade, ansiedade e outras sensações adversas que afetam
o comportamento das pessoas. O termo, em si, não é restrito ao campo
evangélico. Na realidade os evangélicos "tomaram emprestada" essa
noção de "cura interior" da psiquiatria e psicologia secular. Como
conseqüência, "tomaram emprestado", também, muita terminologia e
metodologia que não é derivada estritamente da Palavra de Deus.
De uma certa
forma, "cura interior" popularizou-se como uma TÉCNICA DE
ACONSELHAMENTO. Essas são algumas de suas pressuposições básicas:
1) A maioria
dos problemas das pessoas têm raízes no passado, em experiências dolorosas,
mal-resolvidas.
2) Parte essencial do processo de "cura interior" é o
perdão às pessoas que causaram os ressentimentos ou
problemas na vida do aconselhado.
3)
As pessoas devem relembrar essas experiências e verbalizar o perdão, em forma
de carta, ou de um pronunciamento ao grupo ou ao conselheiro.
4)
"Visualizações", ou seja projetar o que Jesus faria ou diria, nessa
ou naquela situação, ou como você estava em uma determinada ocasião ou
circunstância, são passos normalmente utilizados no processo. A maioria dos
palestrantes e proponentes da "Cura Interior" presentam-na como sendo parte integrante do
trabalho de Cristo, ou seja, ele veio para dar Cura Espiritual (Salvação); Cura
Física (libertação de dores e doenças) e Cura Interior (Paz interna). Todos
esses aspectos representariam quebra do domínio que Satanás exerceria sobre
nós.
II. Pontos positivos a destacar: Mesmo sendo uma abordagem surgida em
meios carismáticos, não podemos deixar de reconhecer que a ênfase no PERDÃO,
como uma forma de solução de problemas internos que afligem as
pessoas, é uma diretriz bíblica muito saudável. As Escrituras nos ensinam: “a
não criar nenhuma ‘raiz de amargura’ e como ela, brotando, contamina” (Ef 4:31
e Hb 12:15); “a perdoar-nos uns aos outros como Cristo nos perdoou” (Ef 4:32 e
Cl 3:13); “e a não ficar remoendo o passado e as experiências ruins que
porventura tenhamos sofrido” (Fl 3:13-14).
Quando a ênfase é colocada na
oração, ou até na procura de pessoas a quem ofendemos, ou por quem fomos
ofendidas (Mt 5:23,24; Mt 18:15,16; Lc. 17:3, 4), isso nos leva a uma sintonia
maior com os preceitos de Deus e com a forma de relacionamento que ele quer de
cada um de nós. O resultado é uma vida com mais paz e com
"cura interior" de problemas
- nesse sentido.
III. Pontos de Cautela, ou a condenar: Nem sempre os
proponentes da "cura interior" defendem ou apresentam os pontos a
seguir. Às vezes até, muitos utilizam o termo sem se aperceber das implicações,
mas de uma forma genérica. Podemos destacar como pontos de cautela, ou
condenáveis, os seguintes:
(1). Transferência de responsabilidades. Muitas
vezes a ênfase da "cura interior" leva as pessoas a procurarem a
origem de seus males e problemas sempre nos outros. Com essa abordagem a
"cura interior" reflete o célebre "cacoete" da psiquiatria
freudiana – a busca desenfreada da responsabilidade alheia para
justificar comportamento inadequado ou até pecaminoso. Muitos crentes são
levados a procurar sempre desculpas pelas escolhas erradas, ou sem critério,
que fazem.
Questões meramente circunstanciais, ou que deveriam ser olhadas sob
a ótica da providência divina, como a perda de um emprego, um acidente de
carro, etc., são relacionadas, sem qualquer base ou critério, a experiências
passadas. Enfatizamos o perigo constante da psicologização da teologia e a
teologização da psicologia, tão encontradiças nestas técnicas de “cura
interior”.
(2). Regressão. Muitos conselheiros ou palestrantes cristãos advogam
a técnica da regressão, na qual você, em sessão grupal ou individual, é levado
a relembrar suas experiências na adolescência, infância, no útero, chegando -
às vezes – à pré-existência (?!). Essa técnica é
estimada por psicólogos da corrente do "treinamento sensitivo" e
defendido por muitos porta-vozes da "nova era". Muitas vezes a
própria experiência do nascimento é colocada como sendo algo traumático, que
tem que ser revivido e confrontado, para que os problemas presentes
desapareçam.
(3). Ênfase na experiência, em vez de nos preceitos da Palavra
Revelada – A Bíblia. Muitas respostas "de algibeira" são fornecidas e
conclusões pessoais colocadas com um dogmatismo que pertence somente às
Escrituras. Nas "regressões" muitas vezes são utilizadas profecias,
revelações. Nas "visualizações" procura-se antever o que Cristo
estaria fazendo ou dizendo nas situações do passado do aconselhado.
Via de
regra essas "visualizações" produzem diálogos com Cristo que passam a
ser determinantes no processo de "cura interior". Tudo isso leva a um
esquecimento ou afastamento da Palavra de Deus, como fonte não apenas primária
de conhecimento espiritual, mas única também (Sola Scriptura). Não é de
espantar que o grande progresso da "cura interior" é nas igrejas e
comunidades carismáticas.
(4) Liberação de perdão a Deus. Muitas das dores e
lutas são resultados da ação de Deus e aqueles que sentem rancores, os que
sentem “raiva contra Deus” por seus infortúnios, devem “liberar o seu perdão a
Deus”.
(5). Demonização. Muitos conselheiros rejeitam (corretamente) a idéia de
que o crente possa ser possuído pelo demônio, outros, entretanto, colocam essa
possibilidade - que não é bíblica, pois o Espírito Santo não co-habita com o
demônio – (Rom 8.9).
Ocorre que muitos desses que rejeitam a noção de
possessão demoníaca do crente, acharam uma maneira de envolver o demônio em
todos os problemas: eles chamam de "opressão demoníaca". O Diabo e os
seus se apegam aos "ganchos" na vida passada dos crentes para oprimi-los.
Faz parte da "cura interior" descobrir esses ganchos (um pecado
cometido pelo aconselhado, ou contra ele, um acidente ocorrido, etc.). Uma vez
identificado em que gancho o demônio está pendurado, ele deve ser removido,
pelo perdão e o demônio repreendido pela "palavra do conhecimento".
Quando você identifica um grande "gancho" e expulsa o demônio maior,
os menores e periféricos, se afastam também. Podemos ver como essa visão
providencia, igualmente, desculpas para que os pecados pessoais sejam resultado
dessas influências externas.
Estas tendências seguem o entendimento
daquilo que é hoje conhecido como “batalha espiritual”, pelo que recomendamos a
leitura do livro do Rev. Dr. Augustus Nicodemus Lopes, publicado pela Casa
Editora Presbiteriana, que trata de forma bíblica e conveniente sobre o tema.
Possivelmente a pregação de uma visão correta e bíblica, da necessidade de
perdão e de uma atitude otimista e alegre com relação à vida, olhando-se para
frente, com a esperança que deve caracterizar o cristão, é uma melhor opção do
que apegar-se ao rótulo da "cura interior", uma vez que os pontos de
cautela e o envolvimento com os carismáticos levam mais perigo do que
benefícios ao termo e às técnicas empregadas.
Existe um livro em Português
chamado "Introdução à Cura Interior", de autoria de David Kornfield,
publicado pela SEPAL --possivelmente sem a maioria dos excessos apresentados
acima. Recentemente o livro recebeu o novo título de "Introdução à
Restauração da Alma", com a indicação de que muitas pessoas tinham objeção
ao termo "Cura Interior".
Existem vários livros de David A. Seamands,
traduzidos para o português, que falam de cura interior. Esses livros do
Seamands são também destituídos de muitos desses excessos, mas a interpretação
dos textos bíblicos e sua conseqüente aplicação é muito alegórica, ou seja, não
flui normalmente do contexto.
Concluindo e resumindo com algumas perguntas e
respostas específicas:
1. A idéia de "cura interior" é bíblica?
Os
conceitos de perdão e dos resultados negativos pela falta de perdão são bíblicos. Deve-se discernir o que
está sendo pregado como "cura interior". Se a metodologia, mensagem
ou processo vem acompanhado de todos os aspectos negativos já mencionados, não
é um conceito bíblico.
2. Há motivo para adotá-la ou não adotá-la?
Dependendo
da definição e o que se pretende com a adoção.
3. Cristo alguma vez promoveu a
cura interior de alguém ou instruiu-nos a fazê-lo?
Cristo promoveu a grande e
final CURA INTERIOR, que é o resgate de nossos pecados e a dádiva da salvação
eterna. O conceito moderno de "cura interior" quase que deixa
antever uma certa sensação de que o
trabalho de Cristo necessita ser terminado, o que não seria bíblico. Cristo
nunca se envolveu em prolongadas sessões de aconselhamento, mas temos de
reconhecer que o seu ministério era outro, era o de cumprir os passos
relacionados com o calvário da redenção, transmitindo a sua mensagem de
julgamento, salvação e vitória sobre a morte. Por outro lado, sua palavra nos
instrui a termos um relacionamento intenso com o nosso próximo, no sentido de
considerarmos os outros maiores e melhores do que nós mesmos, de levarmos as
cargas uns dos outros, de termos preocupação pelos sentimentos e pelas vidas
dos outros, de estarmos sempre praticando o perdão e de não alimentarmos
remorsos ou ressentimentos. Se entendemos esse modo de vida como a prática da
"cura interior", então somos admoestados a tal, porém sem esse
rótulo. Tememos, entretanto, que o termo nunca seja utilizado com uma conotação
tão simples assim.
Conclusões e Sugestões finais:
A. Dada a grande importância
do trabalho de aconselhamento pastoral, que somente a Igreja de Jesus Cristo
pode fazer e que não pode ser entregue aos místicos e nem aos
adeptos da visão freudiana, apresentamos aqui, à guisa de sugestão, a seguinte
bibliografia básica, que pode ser utilizada por todos aqueles que receberam de
Deus o chamado para a obra do aconselhamento, entendendo também que a Igreja
tem sua função terapêutica, a saber:
1. Conselheiro Capaz – Jay Adams – Editora
Fiel;
2. Aconselhamento Bíblico Redentivo – Rev. Wadislau Martins Gomes – Casa
Editora Presbiteriana;
3. Ídolos do Coração e Feira das Vaidades – David
Powlison – Editora Refúgio;
4. Coletânea de Aconselhamento Bíblico – volumes 1
a 3 – Tradução e adaptação do Journal of Biblical Counseling – SBPV;
5. Princípios
Básicos do Aconselhamento Bíblico – Larry Crabb – Editora Refúgio;
6.
Aconselhamento Bíblico Efetivo – Larry Crabb – Editora Refúgio;
7. Mudando de
Dentro Para Fora – Larry Crabb – Editora SEPAL.
B. Reconhecendo que, o que falta
em muitas de nossas igrejas é a conscientização de que a salvação é VERDADEIRAMENTE um MILAGRE DE TRANSFORMAÇÃO
DA PARTE DE DEUS e não um mero convencimento intelectual experimentado pelas
pessoas, se construirmos nossas vidas na conscientização de que fomos alvo
desse milagre, fruto do amor de um Deus soberano e procurarmos demonstrar o
nosso amor pelo cumprimento dos seus mandamentos, para com ELE e para com o próximo,
usufruiremos as bênçãos de termos vidas ajustadas que olham para um presente de
ação e um futuro glorioso, em vez de remoermos indevidamente os problemas do
passado.
Esta perspectiva é nada mais, nada menos, do que o nosso entendimento
da santificação, nosso chamado para vivermos uma vida equilibrada e sermos,
como igreja, uma comunidade que aconselha-se mutuamente, edifica-se e se move
para a estabilidade espiritual.
“Guardemos firme a confissão da esperança, sem
vacilar, pois quem fez a promessa é fiel. Encorajando-nos também uns aos outros
para nos estimularmos ao amor e à prática das boas obras Não deixemos de
congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações
(aconselhamento) e tanto mais quanto vedes que o dia se aproxima.” - Hebreus
10.23-25.”
Enfim, Há sempre PAZ em Jesus - o Cristo!
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